Crise climática e a urgência da educação ambiental: um retrato do Antropoceno

A palestra Magna do professor Alan Duarte, geógrafo e especialista em Gestão e Manejo Ambiental, que abriu o I Encontro Rondoniense de Engenharia Ambiental e Sanitária, trouxe uma abordagem técnica e contundente sobre os impactos da ação humana na atual crise climática planetária. Com foco em conceitos científicos e históricos, ele contextualizou os efeitos das mudanças ambientais em escala global e nacional, e defendeu a educação ambiental como ferramenta crucial para enfrentamento do cenário.

Duarte iniciou explicando que, embora o planeta esteja exposto a diversos fenômenos naturais, como ventos solares e ciclos astronômicos, a Terra é protegida por sua magnetosfera, o campo eletromagnético que impede a destruição pela radiação solar. Contudo, ele reforça que, atualmente, o aquecimento global é impulsionado por atividades humanas, que deixam uma “digital e DNA” inequívocos no clima.

A emissão de gases de efeito estufa de longa vida, como CO₂, metano e óxido nitroso, provenientes principalmente da agropecuária, da queima de combustíveis fósseis e da indústria, é apontada como a principal responsável pelo desequilíbrio térmico da Terra. Diferente do vapor d’água, que tem um ciclo curto na atmosfera, esses gases permanecem ativos por décadas, intensificando o efeito estufa e provocando o aquecimento global.

O palestrante fez distinções fundamentais: o efeito estufa é um fenômeno natural que mantém a Terra habitável, mas o aquecimento global e as mudanças climáticas resultam do agravamento desse efeito por atividades humanas. A elevação da temperatura global tem sido registrada ano após ano, com destaque para 2023 e 2024, considerados os mais quentes desde o início das medições em 1850.

As consequências já são visíveis. Duarte destacou a elevação da temperatura dos oceanos, a acidificação das águas e o colapso de correntes marítimas — fatores que, em todas as grandes extinções em massa da Terra, antecederam perdas significativas de biodiversidade. Ele alerta que vivemos a sexta extinção em massa, a do Antropoceno, período marcado pela força geológica da espécie humana.

No Brasil, a situação é particularmente crítica. O país é uma das maiores economias que mais dependem da estabilidade climática para manter seu PIB, principalmente por conta da agricultura, pecuária e produção de biocombustíveis — setores diretamente afetados pela irregularidade das chuvas e ondas de calor extremo. O desmatamento, sobretudo no Cerrado e na Amazônia, compromete os ciclos hídricos e acelera a degradação de ecossistemas como o Pantanal, maior planície alagável do mundo, que já sofre com o assoreamento e a escassez hídrica.

A urbanização acelerada e desordenada também é um problema. Segundo Duarte, 22 milhões dos 28 milhões de habitantes da Amazônia vivem em cidades, num modelo urbano que precisa ser urgentemente repensado. Ele defende a verticalização consciente, com uso de materiais sustentáveis, como concretos porosos que permitam o florescimento vegetal, já em estudo na Europa.

O professor traçou ainda um panorama histórico, ressaltando que o atual modelo de consumo — baseado na produção em massa, obsolescência planejada e exploração excessiva de recursos — teve início com a Segunda Revolução Industrial, sendo mantido até hoje. Ele propõe uma reflexão sobre os valores da sociedade de consumo, apontando que a felicidade está baseada no acúmulo de bens, e não em bem-estar coletivo ou equilíbrio ambiental.

Por fim, Duarte reforçou que, se o aquecimento global é causado por ações humanas, ele também pode ser revertido por escolhas humanas. E, para isso, a educação ambiental é central. “Não podemos banalizar a vida em um planeta que é um oásis no cosmos. Devemos sacralizá-la com responsabilidade e conhecimento”, concluiu.

Foto: Isadora Fernandes